Author : Vidal ,Haroldo
Publisher : Cousa
ISBN 13 : 8563746995
Total Pages : 140 pages
Book Rating : 4.5/5 (637 download)
Book Synopsis Crianças e sexualidade: saberes-fazeres produzidos dentro-fora da escola by : Vidal ,Haroldo
Download or read book Crianças e sexualidade: saberes-fazeres produzidos dentro-fora da escola written by Vidal ,Haroldo and published by Cousa. This book was released on 2017-05-23 with total page 140 pages. Available in PDF, EPUB and Kindle. Book excerpt: O livro “Crianças e sexualidade: saberes-fazeres produzidos dentro-fora das escolas”, de Haroldo Junior Evangelista Vidal, chega até nós, professores/as, pedagogos/as, pais, mães e todos aqueles/as que se interessam pela formação plena e pela felicidade dos/das jovens, em um momento difícil e oportuno, no qual ainda podemos, não sem a ameaça de sermos denunciados e/ou censurados, problematizar discursos, gestos e rituais que, diariamente, nos/com os cotidianos escolares regulam, vigiam e punem, ao mesmo tempo em que fabricam, de diferentes modos, a sexualidade de crianças e adolescentes. Dessa forma, o livro, que apresenta pensamentos e aprendizagens criados com a pesquisa de mestrado do autor, deve ser tomado como uma máquina de guerra contra a violência, o descaso com a saúde física e psíquica, a generificação, a hierarquização e a sexualização dos corpos infantis, a desigualdade que desses processos decorre, o preconceito, a discriminação e a marginalização que levam tantos/as estudantes a sofrerem calados/as, a se isolarem, a evadirem das escolas e até mesmo a cometerem suicídio, constituindo-se, por isso mesmo, em uma afirmativa teórica e política em prol da vida ativa, da alegria e da vontade de viver. Trata-se, primeiramente, como consta na dedicatória, de fazer justiça social e cognitiva a “todos e todas que tiveram suas vozes silenciadas no decorrer de suas trajetórias escolares”.Diferentes estudos realizados por pesquisadores do Grupo de Pesquisa CNPq que coordeno na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “Currículos, narrativas audiovisuais e diferença”, entre eles o autor desse livro, apontam que a escola é/foi um dos espaços-tempos considerados mais cruéis, mais difíceis de habitar, por crianças e adolescentes considerados/as fora do padrão comportamental esperado para o gênero-sexo que lhe foi designado/a aos nascer ou até antes do nascimento, quando a mãe faz um ultrassom. Tal operação de classificação de seus corpos fixada nas genitálias e apenas nelas (generificação) institui, no contexto das relações de poder e dos arranjos sociais e econômicos vigentes, dois tipos de sexos-gêneros, macho/fêmea, homem/mulher, cujos comportamentos serão ensinados-aprendidos, desempenhados, avaliados e aprovados ou, ao contrário, ignorados, subvertidos, transgredidos, julgados e reprovados na multiplicidade e na complexidade das práticas cotidianas. Jovens que não se encaixam nos modelos de masculinidade e de feminilidade compulsórios e hegemônicos nos narram/narraram que o medo, a solidão, a segregação, o deboche, o desprezo e ódio marcam/marcaram suas trajetórias escolares. Outros/as ainda nos narram/narraram táticas de sobrevivência, mímicas e negociações que confundem fronteiras e instauram outras/novas possibilidades de existência. Mais do que estabelecer políticas de acolhimento, tolerância e respeito a esses/as estudantes tidos como “diferentes”, o que apesar de necessário não é suficiente, a maior parte dos estudos que relacionam questões de gênero e sexualidade com a educação buscam desnaturalizar os processos, discursos e práticas que, permanentemente, produzem as expectativas/estereótipos de gênero e a normalização da heterossexualidade, despotencializando, com esse engessamento, a experimentação das potências e prazeres dos corpos, de todos os corpos. Trata-se de valorizar o processo de diferenciação, de singularização e de autocriação, ao invés de fabricar corpos e subjetivadas codificados. Trata-se de problematizar a norma e não o que ela faz ser considerado anormal.Atualmente, vivemos no Brasil um momento em que uma onda conservadora neoliberal levada a cabo por políticos e governantes ligados a partidos de direita, à bancada evangélica no Congresso Nacional, às mídias coorporativas, ao capital transnacional, entre outros segmentos da nossa sociedade, avança sobre as instituições, extinguindo direitos conquistados e impingindo valores culturais e morais condizentes com seus interesses, entre eles a manutenção da divisão do trabalho social e sexual, da desigualdade econômica e política, da dominação de uns sobre outros. Para isso, sistemas de poder-saber buscam, incessantemente, justificar e legitimar a desigualdade e a dominação através de discursos que naturalizam, “biologizam”, “psicologizam”, quiçá sacralizam, uma diferença sexual que é culturalmente construída. Movimentos como o “Escola sem partido” e propostas de diretrizes para a Educação, como a “Reforma do Ensino Médio” e a “Base Nacional Curricular Comum” buscam instituir escolas despolitizadas, assexuadas, desracializadas, conteudistas e tecnicistas, organizadas e voltadas para os interesses e necessidades que propõem como naturalmente diferentes pobres e ricos, meninos e meninas. Escolas que, na verdade, buscariam produzir, com suas práticas, o que defendem ser “natural”. Nessa contingência, conceitos criados como instrumento de batalha, tais como “ideologia de gênero”, tentam ganhar apoio da população para garantir o silenciamento das vozes que escapam às tecnologias de controle e regulação, patologizando alunos/as sexualmente dissidentes e culpabilizando professores/as que põem o assunto em discussão. Num projeto mais amplo, podemos vislumbrar a desmoralização do ensino público e o caminho para a privatização da educação.Nesse cenário desafiador, estudos como o realizado por Haroldo Junior Evangelista Vidal são urgentes e relevantes por contribuírem para inviabilizar essas práticas e seus efeitos nos cotidianos das escolas. E, no final das contas, são indispensáveis para nos fazer ouvir mais vozes, outras vozes, vozes dissidentes, vozes antes silenciadas, que ao se fazerem ouvidas aumentam o coro daqueles que murmuram ou gritam em alto e bom tom: Não passarão! Feito esse breve preâmbulo, convido todos e todas à leitura e à luta. Maria da Conceição Silva Soares Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)